Guilherme Silva*
Milhares de estudantes deixaram de ir às escolas e faculdades, no dia 20 de abril. Não foi feriado por data histórica nem dia santo. O motivo foi o medo, ora veja-se, de irem e não voltarem de lá. São tantos que não há como hierarquizar os graus e tipos de prejuízos. Toda a comunidade escolar e o país perdem muito, material e simbolicamente.
Entende-se comunidade escolar os corpos discentes e os técnicos docentes e administrativos, as famílias, os serviços públicos e a sociedade privada. A escola é responsabilidade de todos. Haja vista a primeira edificação de uma ocupação do MST ser uma escola. O desenvolvimento de uma educação emancipadora, desejada e acessível à toda a sociedade é basilar dos interesses desses três universos políticos e é incompreensível que se aceite o seu abandono.
A condição de sociedade pacificada e justa é muito comum em países desenvolvidos, admirados pelos brasileiros, justamente pela excelência na educação. O Brasil nunca foi a referência mais positiva da questão, e suas escolas não podem ser consideradas campos de paz. Contudo, não havia esse tipo de ataque orquestrado e cinematográfico.
A violência de agora tem origem, mais precisamente, 2018. Ano em que o Brasil elegeu o ódio para a Presidência da República. Sentimento este construído, desde a Lava Jato, quando se criminalizou a política. O candidato que conclamou a população, em discurso de campanha, a metralhar o adversário político, foi eleito.
Não obstante o caráter cretino e maléfico da criatura, soma-se a dependência cultural dos brasileiros. Bolsonaro e bolsonaristas se orgulham de idolatrarem os EUA, país campeão mundial de massacres em escolas. O presidente importou a política armamentista do Tio Sam, na mais completa desregulamentação e não apenas banalizou, mas apoiou a violência contra as minorias.
Agora, os telhados das casas estão cobertos dos frutos das sementes semeadas e a sociedade se pergunta de onde saiu isso. A imprensa venal, cinicamente, trata do assunto como se nada tivesse a ver com isso. Ela já provou não ser o meio mais bem qualificado e confiável para propor esse debate. As forças progressistas deste país devem agarrar esse assunto, com unhas e dentes, e evitar que mais tragédias se repitam.
A comunidade escolar não pode deixar assunto capital nas mãos de quem ganha com a venda de sangue derramado. Tampouco o assunto pode ser dominado pela narrativa conservadora e autoritária de um Estado policialesco. O debate deve ser intenso, perene, bem qualificado, até extinguir das escolas, por completo, o pensamento bolsonarista.
Em vista da maturidade política média do brasileiro, cabe ao governo Lula avançar com campanhas de conscientização. Não apenas dessa violência, mas da indissociabilidade da comunidade e da participação política como condição para extirpar a extrema-direita do Brasil e colocar este país nos trilhos, rumo a uma nação avançada, justa e civilizada.
*Guilherme Silva escrevinha