Se dá em Chico que se dê em Francisco

Apesar de desastrado, atabalhoado, planejado pelos Trapalhões, o fato é que o 8 de janeiro foi um ato terrorista. Com inocentes, se os há, ou não, os atentados ocorreram e devem ser investigados. Os envolvidos, acusados, processados e julgados. De imediato, os que já vivenciam a experiência da condição de apenado são os executores da destruição, notadamente, uma população difusa.

Entre os presos estão aquela avozinha simpática a quem se dá um não menos simpático bom dia; aquele marido amoroso e companheiro da família; a estudante que mata todas as aulas de história, sociologia, filosofia e geografia; o médico que assedia sexualmente suas pacientes; aquela mãe orgulhosa de se desdobrar em mil para cuidar família, em geral, sozinha e aquele filhão que abusa de colegas entorpecidas.

Enfim, são pessoas sem condições de planejar uma viagem de fim de semana, que dirá um golpe de Estado. Contudo, a ninguém é dado o direito do desconhecimento da lei. Ademais, não precisa ser um juiz para identificar enes crimes praticados naquele dia. Não foi um protesto por melhoria de salários, mas uma deliberada tentativa de romper com a democracia. E isso não é pouco, como disse Jandira Feghali.

As sedes dos Três Poderes foram atacadas e vandalizadas com o propósito de suprimi-los, como fez a ditadura civil-militar, de 1964. Um golpe curioso, aliás. Burocrático, feito durante o expediente, das 9h às 17h. Agora, os terroristas de ocasião, sentindo o peso da ficha caindo, apelam para a condição de teleguiados, pagos para ocuparem as imediações do exército, com plena e criminosa anuência dos generais.

Pessoas sem condições financeiras se verão perdidos nos escaninhos de um kafkiano Judiciário, que está profundamente ofendido. Boa parte não tem ideia do calvário que vai encontrar pela frente, provavelmente para o resto da vida. Então, a dona Eulália, da rua Barão do Engenho, conhecida pelos 10 mil habitantes do município como uma artista da costura, ostentará uma tornozeleira eletrônica e será condenada pela justiça.

A Comissão Parlamentar Mista de Inquérito, instalada para investigar o 8 de janeiro, não pode se apequenar em acusar o seu João Aquino, da venda, apenas. Isso seria mais uma grande desmoralização para a história do Congresso Nacional. A imensa maioria das pessoas envolvidas não tinha condições de se organizar e financiar um processo que não foi gestado da noite para o dia.

A CPMI tem por obrigação apontar os idealizadores, os operadores e os financiadores dessa clara tentativa de suprimir a democracia. Vai ser interessante quando a comissão revelar assessores e parlamentares umbilicalmente ligados ao ato. Assistir a oposição ser desmascarada, ao vivo, a cores e em capítulos, não tem preço.

Pelo comportamento de um deputado da extrema-direita, que se apresentou à comissão de pijama, a ordem é tumultuar os trabalhos e retardar o seu progresso. Há poucos dias, ela clamava pela CPMI, com a acusação de que houve negligência do atual governo, já devida e sobejamente refutada. Agora, eleita pelo voto direto, graças à democracia, será desmascarada durante as reuniões, como a golpista e antidemocrática que é. Dias difíceis para a oposição se avizinham. Viva.

Uma resposta para “Se dá em Chico que se dê em Francisco

  1. Maria Chirlene Oliveira

    Perfeitas colocações! Há que se investigar os mandantes, os executores e os financiadores do dia do vandalismo, do terrorismo e da tentativa de golpe!
    Que a justiça seja implacável com essas bactérias!

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