Arquivo da categoria: boas vindas

Chega de bater palmas pra imprensa golpista dançar

Entre 2014 e 2016, a imprensa da Faria Lima, Globo, Estadão, Folha, Record, SBT, entre outras, se empenharam na difusão da maior farsa jurídica da história do Brasil, a Lava Jato, e sustentaram as tais pedaladas fiscais da ex-presidenta Dilma Rousseff, que nunca existiram.

Não apenas Dilma foi retirada da Presidência da República, mas suprimiram-se centenas de direitos conquistados com o suor e o sangue dos brasileiros, além de incontáveis programas de governo, que valorizaram o salário-mínimo 78% acima da inflação, construíram cerca de três milhões de moradias para mais de 10 milhões de pessoas, além de dezenas universidades, centenas de escolas técnicas, entre outros avanços cujos espaço e pauta não permitem.

Depois de reveladas as mentiras da quadrilha da República de Curitiba, a sociedade ainda aguarda uma satisfação dessa imprensa. Afinal, trata-se de concessão pública paga pelo contribuinte, que recebe informações distorcidas e mentirosas. Essa dívida é antiga. Desde muito antes, de 2003, desinforma, demoniza, condena a esquerda e, principalmente, o Partido dos Trabalhadores.

É do seu DNA. Ela foi fundamental para instalação e manutenção da ditadura civil-militar. A sua contribuição para a eleição da extrema-direita se deu de diversas formas, mas duas são flagrantes. A primeira, o aprofundamento do acima relatado acerca do tratamento dispensado às ideologias divergentes da casa-grande.

A segunda é a antítese da postura dessa imprensa com a esquerda. A folclorização de Bolsonaro, retratado como um bufão de quinta, um Odorico Paraguaçu ainda mais piorado. Quando relativizou e relevou suas posturas, não colocou um genocida no seu devido lugar.

Desde o início do governo Lula, a Faria Lima manuseia as canetas da sua imprensa com as artilharias voltadas para o Executivo. Distorcem informações e fazem qualquer política de governo parecer um desastre, quando esta afeta os interesses dos rentistas desse Brasil profundamente desigual. Isso, quando não noticiam deslavadas mentiras, sustentadas, invariavelmente, por uma fonte anônima.

Participantes do programa Minha Casa Minha Vida que recebem Bolsa Família ou Benefício de Prestação Continuada estão sendo informados pela Caixa Econômica Federal de que não devem mais prestação alguma, pois o imóvel já está quitado.

Nenhuma letra da imprensa que vive de crises, sejam criadas por ela ou por outros atores, como os Três Poderes, sobre essa expressiva conquista dos trabalhadores. O desemprego está recuando e aumentou o rendimento do trabalhador. Em 2022, eram 2,6 milhões de brasileiros procurando emprego, há mais de dois anos. No segundo trimestre, de 2023, essa população foi reduzida para 1,8 milhão.

O rendimento médio mensal do brasileiro era de R$ 2.862, em 2022. Ao fim do primeiro semestre, de 2023, passou para R$ 2.982. Agora, em novembro, é de R$ 2.933. Informações absolutamente ignoradas pela referida imprensa. Afinal, seria a divulgação de ações positivas, o que fortaleceria Lula e ampliaria a aprovação do seu governo. Silêncio sepulcral nas redações.

O trabalho dessa imprensa é outro. Parasita, autoritária, antidemocrática, está a serviço da Faria Lima. Recentemente, os restos mortais do que um dia foi considerado um grande jornal tentaram atribuir uma suposta ligação do ministro da Justiça Flávio Dino com o narcotráfico.

Pior, afrontaram todas as vozes que apontaram o rutilante e grave “erro” cometido pelo jornal. Não satisfeitos, colocaram-se de vítimas perseguidas por censura quando as redes sociais se levantaram contra a postura indecente do Estadão, dos veículos congêneres e seus profissionais que defenderam, ora vejam, a mentira.

Chega de bater palmas para essa imprensa dançar. O melhor é a inanição. Ignorar e não replicar mais seus absurdos e desserviços. O posicionamento dela não é novidade. Não é necessário reafirmá-lo. Suas postagens são o cotidiano de narrativas com o único propósito de parasitar o país. Compartilhar ou comentar, mesmo com indignação, dá engajamento, que é o alimento dela.

Todas as páginas e redes sociais do governo estão repletas de políticas em andamento e notícias de tantas outras travadas pelas chantagens de Arthur Lira e Rodrigo Pacheco. Além da divulgação pura e simples das diversas ações que estão resgatando a dignidade do Brasil, há uma defesa de direitos a se fazer, pois a imensa maioria dos 594 parlamentares do Congresso Nacional está a serviço da classe dominante. Portanto, chega de perder tempo com uma fonte da qual se sabe o que sai.

Cobrar do Lula é fácil

Pouca maturidade política, pra não classificar de outra coisa, não é exclusividade dos desinformados. Durante sete anos, pode-se contar nos dedos de uma das mãos as vezes em que se ouviu e se viu tanta mobilização por greve, como se vê, desde janeiro.

Reposições salariais, recomposição de planos e carreiras, etc. A não ser pelos protestos contra o genocídio de 700 mil pessoas durante a pandemia, entre 2017 e 2022, houve uma paralisia da luta dos trabalhadores, tanto dos desorganizados quanto dos organizados em sindicatos. Foram manifestações pontuais, ignoradas quando não reprimidas por um governo fascista.

Os franceses colocaram cidades abaixo por menos do que Temer e Bolsonaro fizeram com os trabalhadores. Os direitos suprimidos haviam sido conquistados por proletários que vieram antes, e que por eles sangraram. Em cinco anos, manifestações cirandeiras, no mais das vezes, de categorias estanques umas das outras e, principalmente, esvaziadas, foram as que predominaram.

Os sindicatos herdaram da Lava Jato trabalhadores desacreditados e enojados com a política e ainda mais avessos a qualquer debate acerca da luta de classes. Os espaços de organização dos trabalhadores perderam a legitimidade e a autoridade de mobilizar a classe trabalhadora. Sindicatos romperam com centrais sindicais e perderam, ainda mais, capacidade de mobilização.

Os movimentos de lutas populares mais bem organizados e estruturados, rurais e urbanos, eternamente sob a mira de armas ignoradas pelo governo golpista e amplamente difundidas pelo genocida, se movimentaram com muito cuidado. Nesse caso, a preservação da vida, ante um governo fascista, não se discute.

Com o fim do inferno, desde janeiro, veem-se mobilizações de categorias que não se organizaram durante os governos mais cruéis, desde a ditadura civil-militar, de 1964. Agora, vão para as portas dos ministérios com a conta dos prejuízos na carreira, provocados por Temer e Bolsonaro. Diferentemente de um passado recente, correm o risco de registrarem a reunião com algum ministro ou com secretário-executivo e verem suas demandas recebidas e encaminhadas.

Governo deve ser pressionado, até mesmo pra saber que tem apoio. Protestar contra um, absolutamente tolerante e atento a críticas e que faz um esforço hercúleo para injetar trilhões de R$ na economia, lutando contra um Congresso deletério, reacionário e de oposição, não honra a memória de companheiras e companheiros que deram a vida para conquistar e manter direitos.

Os que passaram e lutaram, antes, serão exaltados quando os sindicatos e as centrais desenvolverem estratégias de mobilização das forças produtivas sobre determinados atores políticos. Quem não permite Lula pisar no acelerador são o Congresso e o Banco Central, principalmente, mas não os únicos.

Contudo, o maior problema está no Legislativo. As organizações sindicais devem ter a competência de organizar e mobilizar a pressão sobre deputados e senadores. Protestar em frente ao Palácio do Planalto e dos ministérios, sim, mas a população deve estar ciente de que são os parlamentares, a mando de seus donos, os grandes sabotadores das propostas encaminhadas pelo governo.

Sindicatos e centrais podem e devem aproveitar parte do arrecadado com o reinstituído imposto sindical para investir em pesadas e periódicas campanhas de pressão sobre o Congresso. Massificar, nas bases dos parlamentares, informações para acabar com a carreira política dos congressistas que traem os trabalhadores.

Não é trabalho do dia para a noite nem o único caminho. As centrais e os sindicatos são peça fundamental no processo de ampliar o tamanho das forças progressistas e aliadas das lutas populares, no Congresso.

São vários os caminhos para o amadurecimento político da população. Entre o quais, a reconquista da legitimidade desses espaços de organização, a conscientização da classe trabalhadora quanto ao seu fiel reflexo no Congresso Nacional, nas Assembleias Legislativas e Câmaras de Vereadores e o que isso significa para suas demandas.

Governo e Congresso Nacional progressistas têm melhores condições de aprovar e implementar políticas que promovam justiça de acesso à acumulação de capital cultural e aos bens produzidos das riquezas energéticas do país, transformadas sob a ininterrupta e dura força dos trabalhadores.

Minha Politização Minha Vida

Na política de educação integral proposta pelo governo Lula, deve-se incluir o Programa Minha Politização Minha Vida. Sem desmerecer a bela e poética área de exatas é urgente instituir carga horária significativa na grade curricular dos ensinos Fundamental e Médio, de Sociologia, Filosofia, História, Literatura, Geografia, Arte, aplicada dentro e fora de sala de aula e integrada à conjuntura da comunidade escolar.

Após quatro anos de muita dor, perdas irreparáveis e interminável angústia, o carbúnculo foi arrancado. Não sem muito custo, por um buraco extremamente apertado, em volta do qual se deu renhido confronto entre humanistas e fascistas, o que tornou a extração da massa sebosa ainda mais sofrida. O prazer do alívio imediato, no dia 30 de outubro, foi proporcional à aflição vivida, entre 2018 e 2022.

Oito meses de governo Lula e, desde janeiro, o Brasil já respira a atmosfera da esperança, o que é fundamental para o pronto restabelecimento. Contudo, apesar da vitória civilizatória, o organismo não está curado. Meus avós diriam que o sangue da sociedade está reimoso. Haja vista a composição do Congresso Nacional, tomado pela extrema-direita.

A posse de Lula cessou a agonia e o aprofundamento da doença fascista. Agora, é o processo de curar o sangue da nação, mortalmente contaminado de ódio, disseminado, desde 2013, eclodido, em 2018, cujo legado é a tontura da fome em dezenas de milhões de brasileiros. A eleição daquele ou de qualquer outro desqualificado da vez foi o resultado de insistente campanha de criminalização da política, da esquerda e, especialmente, do Partido dos Trabalhadores.

Será uma tarefa hercúlea superar décadas de retrocessos econômicos, culturais, sociais, tecnológicos, ambientais, políticos, vividos nos últimos quatro anos, somada ao passivo da secular e bestial despolitização brasileira. Transformar em progressistas, Câmaras de Vereadores, Assembleias Legislativas, Câmara dos Deputados e Senado é um dos principais caminhos a se abrir e pavimentar, no sentido de evitar, senão retardar, a volta do fascismo aos poderes centrais do país.

Durante os próximos 20 anos, pelo menos, políticas públicas e dignas de educação emancipatória, saúde, cultura, segurança, habitação, mobilidade, direitos humanos devem ser aplicadas nos 5.565 municípios, sob acompanhamento dos sucessivos governos federais. Avanços civilizatórios não podem ficar ao sabor de interesses dos políticos locais, no mais das vezes, provincianos e brejeiros da extrema-direita.

A federalização dessas políticas, aplicadas em consonância e intercâmbio entre a diversidade multicultural brasileira, faz parte da receita para o Brasil aprender a se enxergar e a se respeitar multifacetado. A maturidade política do brasileiro será a consolidação da atmosfera sentida nos primeiros meses do governo Lula. Para isso, a conscientização do valor e o respeito pela salada genética brasileira devem ser compartilhados em todos os quadrantes do território nacional.

Aos poucos, desde os municípios ao Congresso Nacional, passando pelos estados, o poder legislativo sofrerá uma depuração e será ocupado por políticos muito preocupados com a crítica dos eleitores, mais amadurecidos politicamente e mais resistentes à cooptação pelo discurso rasteiro, messiânico e empresarial de uma forma da prática política, que deveria ser banida do país.

Lula tem sido um gigante da política, uma referência para as lideranças progressistas do mundo todo, de como pelear com a extrema-direita, maioria do CN. Sem ameaçar, corromper a si e a outros ou coagir o Legislativo, o presidente tem conseguido significativos avanços para o Brasil e para os brasileiros, principalmente os mais pobres.

Porém, tudo tem limites, menos o apetite do Centrão, um eufemismo pra extrema-direita. Governou o país, nos últimos 10 anos. Foi comparsa do ex-governo, não está acostumado a lidar com a democracia, a harmonia e a autonomia dos Poderes da República. Agora, sob crise de abstinência de orçamento secreto, chantageia, às claras, o governo Lula para ocupar algum ministério, de olho num naco do R$ 1,7 trilhão do PAC.

Enquanto houver bancadas da bala, do boi e da Bíblia, nos legislativos das três esferas de Estado, serão eternamente caricaturas de “O Bem Amado”, do genial Dias Gomes. O CN é cópia fiel dos parlamentos estaduais e municipais. Desde a Câmara de Vereadores, aprendem como excluir a participação popular e legislar por interesses mais rentáveis que justos.

Dos 594 congressistas, não mais de 150 são progressistas e de esquerda. Para o Lula aprovar todas as medidas, até o momento, está fazendo uma ginástica política de alta complexidade e cuidado. Arthur Lira, como legítimo representante da extrema-direita, não é diferente daquele vereador de um município de cinco mil habitantes, conhecido de todos, que ajuda o prefeito e os deputados estadual e federal a desviarem recursos que faltarão ao posto de saúde e à escola que sua família e seus amigos e parentes usam.

A esses, interessam que as políticas fundamentais supracitadas sejam atribuições de estados e municípios, secularmente governados pela direita do carro de boi. Para ela, o quanto puder praticar ações paliativas, circunstanciais de emergência, de pão e de circo mambembe, para manter a despolitização da população, ela o fará.

O movimento deve ser de baixo para cima, para não morrer no nascedouro. Os ministérios do governo Lula, que tratam dessas políticas, eminentemente, mas não exclusivamente, devem, com urgência, adotar a implementação maciça de tais políticas, com acompanhamento in loco.

O custo do investimento inicial, por maior que seja, compensará e dará muito lucro a cada centavo investido, com o aumento da consciência política da população. É urgente, o cio é a condição de existência do fascismo, mas é necessário superá-lo sob a menor tensão, pois há bilionários e inconfessáveis interesses que lucrariam ainda mais com o sangue derramado numa convulsão social.

Quanto mais demorado o amadurecimento político da população, que passa por esse caminho, também, melhor para os parasitas do mercado financeiro e os amedalhados até o duodeno, que nunca viveram uma guerra.

Considerações aos gusanos da pátria, muambeiros de joias e traficantes de cocaína, à parte, enquanto a caridade vier antes da justiça social (alguém já disse isso), eterniza-se a precarização da imensa maioria da população, em favor de uma minoria muito dispendiosa, poluidora e improdutiva. Viva o programa Minha Politização Minha Vida.

Da barbárie à civilização e de volta à barbárie

Maria e João são trabalhadores nos serviços gerais. Ela numa clínica médica e ele terceirizado num grande hospital público. Durante os governos do Partido dos Trabalhadores, se inscreveram no programa Minha Casa Minha Vida. Saíram de uma área periférica, sem infraestrutura e violenta, do Distrito Federal, com as duas filhas pequenas, para morarem no Mangueiral.

Deixaram para trás, a cerca de 50 quilômetros, décadas de laços afetivos construídos com famílias, parentes e amigos. Moravam no fundo de um terreno, atrás de uma casa de alvenaria não muito melhor que a deles, cujos tijolos parentes se misturavam ao madeirite. O telhado meia-água, com seis folhas de zinco, mal cobria encanações e fios elétricos entrelaçados.

O terreno era separado do asfalto esburacado por uma estreita calçada, num dos poucos trechos em que havia uma. A disposição dos cômodos, a criatividade das gambiarras e dos utensílios domésticos tinham a assinatura da inteligência de quem não tem condições de pagar um arquiteto nem de comprar ferramentas, mas a extrema necessidade de um teto para se abrigar com a família.

Encontraram no Mangueiral, um condomínio fechado, com portaria, vigiado por rondas periódicas e câmeras de vídeo, água, luz, esgotamento sanitário, calçamento, asfaltamento, iluminação pública, transporte coletivo regular e a poucos metros da casa. As edificações foram projetadas por arquitetos e erguidas por engenheiros e operários da construção civil. Os cômodos, planejadamente divididos em dois andares, ocupam cerca de 70m², com sala, cozinha, três banheiros, três quartos varanda e área de serviço.

O casal nasceu e viveu num ambiente hostil e degradante para qualquer adulto, que dirá para crianças. Devido à limitação pedagógica e cognitiva da mãe, somada à sua irrenunciável obrigação de criar os filhos, sozinha, Maria cresceu sob gritos, ameaças e surras, que era pra não se perder, como a mãe justificava para se perdoar. Desgraçadamente, ela e os irmãos não conheceram outro modelo de educação e o reproduziram com suas respectivas famílias.

Maria teve a mãe, três irmãos e uma irmã, apenas. Do pai, sabe apenas o nome e que não é o mesmo dos irmãos. A criação foi sob a dureza de uma realidade plena de ausências. Uma vida feita de incertezas, da alimentação, do transporte, da educação, saúde, moradia, do lazer. Enfim, herdeira da histórica exclusão social brasileira. Ela e os irmãos não foram além do Ensino Médio. A sua família é mais uma do exército de mão de obra barata e sem justiça social, cuja rotina histórica é a de trabalhar, “havendo ou não”. (Chico Buarque e João Cabral de Melo Neto).

As filhas de Maria, desde nascidas, foram apresentadas ao modus operandi herdado da avó e aplicado por toda a família. Menos por João, o pai, que não levantava a voz, mas não desautorizava as agressões da mãe. Até pouco antes dos nove anos de idade, com mais ou menos dificuldade, as meninas seguiram na linha traçada para elas. Quando os hormônios começam a entrar em ebulição, a família se mudou pro Mangueiral.

O deslumbramento com a arquitetura, infraestrutura e novas relações sociais cessaram a rigidez de Maria com as filhas, por um tempo, infelizmente, não o suficiente para impedir o terrível desfecho. A família se acomodou ao lado de vizinhos acolhedores e solidários, de diferentes referências sociais e econômicas, que reconheceram o bom caráter e a decência das pessoas. O convívio diário só confirmou as primeiras impressões e o convívio transcorreu bastante harmônico e com trocas de gentilezas, até os gritos da mãe chamarem a atenção do condomínio.

Maria estava assustada com a nova vida das filhas. Elas passaram, do dia para noite, literalmente, a desfrutar de uma intensa liberdade, num ambiente muito seguro e pleno de infraestrutura. Onde moravam, L e J não passavam sozinhas dos limites do terreno da casa, nem por decreto. Já no novo bairro, os moradores dormem com as portas destrancadas e as janelas abertas. Os carros só não ficam com os vidros abaixados para se evitar de encontrar presentes felinos no seu interior. Ao atravessar a porta para fora da casa, se alcança excelente pavimentação, amplo, limpo e bem cuidado gramado e área de lazer.

Crianças transbordando energia ganharam as ruas do condomínio com muita facilidade e voracidade, fazendo muitas amizades. O êxtase das meninas mexeu com as paranoias de Maria, traumatizada pela vida num ambiente cruento. Para desespero da mãe, L e J viviam o sentido da expressão entusiasmo. Contudo, para agravar, não havia deuses suficientes para preencherem aquelas duas almas em festa.

Os estudos já não iam muito bem e foram, definitivamente, pras cucuias. Tonta de não saber lidar com as infinitas percepções das meninas, Maria entrou em pânico quando se viu impotente diante do único modelo de educação que conhecia. Não sabia conversar com filhas senão para atemorizá-las e culpá-las. Perdida, sem ter a quem pedir ajuda pra poder acolher com carinho e compreensão a nova realidade delas, a mãe engoliu seco e se resignou, arrasada.

“A gente dá aquilo que tem e educação não mata”, pensava para aliviar a consciência. Por ser a mantenedora e responsável pelas filhas, Maria tem consolidada a referência de sua mãe, que lhe confere a autoridade com o direito materno de cobrar de L e J, do seu jeito, que busquem pelo o que a mãe nunca teve. Ela conhece muito bem o destino de todas as suas contemporâneas, rebeldes e pobres, como ela, que se recusaram ou não conseguiram levar os estudos à frente. O trabalho braçal e desvalorizado.

Maria e João conseguiram estabelecer turnos diferentes em seus respectivos empregos, para ter sempre alguém em casa. Mas isso, por si só, não surtiu efeitos positivos na escola. À medida em que as séries avançam, mais complexo se torna para pais historicamente excluídos de acesso à educação formal digna, ajudarem os filhos nos estudos. A cada dificuldade de L e J, os pais, sentiam uma bigorna bater em suas cabeças e eram tomados da impotência de não saberem orientá-las numa pesquisa colegial.

Num misto de desnorteada e resignada, Maria tentava conversar com as filhas sobre a matéria e encontrar um caminho que as ajudasse. Tateava sua ignorância num mundo no qual sua limitada cognição não a deixava enxergar. Tentava compreender algo que suas filhas não compreendiam, também. Qualquer resposta das meninas continuava sem sentido pra mãe. À medida em que a conversa avançava, os problemas se avolumavam. Os ânimos alteravam porque, não raro, as meninas riam da completa ignorância da mãe.

De tanto sentirem nos ouvidos e na autoestima a frustração da mãe, que descarregava cobrança por bom desempenho escolar, as meninas procuravam manter a conversa sem provocar o ódio que a mãe sentia por não conseguir ajudar suas filhas amadas e muito bem cuidadas. Maria se exasperava de assistir à reprodução da sua vida no futuro das filhas e despejava um caminhão de impropérios e ofensas nas meninas.

Durante 10 minutos, pelo menos, a única voz ouvida na rua Z, de um dos 15 condomínios do Mangueiral, era a de uma mãe clamando socorro por não saber orientar e proteger as filhas do destino do trabalho braçal. Ela não tolerava pensar que L e J não acessariam a universidade, não teriam anel de “dotô”, e penariam a vida dos pais.

Com o passar do tempo, vizinhos mais próximos tiveram a coragem de se aproximar e tentar conversar com Maria. Foram rechaçados, um a um, pela mãe que sabia perfeitamente qual seria a orientação para qual ela não tinha condições de assumir, aumentando ainda mais, culpa, insegurança, frustração e ódio.

Infelizmente, para Maria, João, as filhas e a rua como um todo, a especulação imobiliária criou um processo de gentrificação no Mangueiral. O m² sempre foi valorizado, mas a escalada de preços cobrados se acelerou, desde o golpe de 2016, quando os pobres passaram a perder as poucas conquistas nos governos do PT, como o poder de renda.

Por volta de 2018, casas que valiam pouco mais de R$ 200 mil, tiveram as vagas para carros ostensivamente ocupadas por veículos cujos valores são os mesmos do imóvel, senão mais. Hoje, há imóveis anunciados por mais de R$ 700 mil, reformados com projetos arquitetônicos arrojados e caros.

Os primeiros valores anunciados de imóveis vendidos, animaram o casal a voltar a morar próximo dos parentes e amigos. Conversaram com os vizinhos e foram, mais de uma vez, desencorajados. Seria possível comprar uma boa e bem localizada casa onde moravam, a partir de onde restabeleceriam os velhos laços com o lugar. Contudo, vão encontrar os mesmos problemas sociais e de infraestrutura que deixaram para trás.

Consideravam não apenas esse imprescindível quesito encontrado no Mangueiral, mas a sua localização, bem mais próxima dos serviços públicos que atendem muito melhor que os de onde vieram. A escola das meninas fica na RA São Sebastião. A distância entre a casa e a escola é grande e demanda transporte. As paredes da escola do Mangueiral, que será vizinha de muro do condomínio de Maria, ainda estão sendo erguidas.

As exaustivas horas de trabalho dos pais, além da correria de cada um pra chegar em casa e render o outro para ir trabalhar, provocaram desencontros da mãe com as secretarias competentes onde poderia encontrar apoio e orientação. Isso minou as forças dos pais, desesperados porque as meninas não acompanhavam os colegas e os resultados só desanimavam. Sentiam-se deslocados, como o estrangeiro numa terra estranha. Falam o mesmo idioma dos vizinhos, mas sentiam que não faziam parte daquele espaço.

Para a tristeza de toda a rua, um dos vizinhos mais próximos da família e querido por todos, vendeu a casa e foi morar em Olhos D’Água, distrito de Alexânia (GO). O imóvel dele foi ocupado por uma mulher pouco tolerante às diversas realidades sociais, econômicas e culturais do primeiro projeto bem-sucedido de transferência de riqueza, da história do Brasil. Maria e João eram os primeiros das gerações de suas respectivas famílias a terem acesso a condições dignas de moradia.

Antes mesmo de se aproximar da família, além de cumprimentos cordiais e protocolares à distância, a nova moradora sentiu um profundo mal estar no dia em que ouviu Maria repreender as filhas. Na terceira vez em que a mãe esculachou as meninas, “apenas porque elas não queriam estudar”, segundo a vizinha, ela fez uma reclamação formal ao condomínio. Oriunda de uma realidade oposta, com os filhos bem encaminhados nos estudos e no mercado de trabalho, a mulher não tinha ideia da angústia daquela mãe.

Ao receberem a notificação do condomínio, os pais se mortificaram. São pessoas humildes, que não têm o alcance do que fazem às L e J. Pessoas de universo vocabular limitado e mentalidade provinciana, se sentiram intimidadas e não se atreveram a questionar a vizinha. Para Maria e João, ela se metia na criação das meninas e sentiram-se oprimidos e expostos. Na visão deles, sem porquê, pois apenas cumpriam o dever dos pais de orientar as filhas nos estudos.

Maria passou a se policiar, mas acabou por despejar nas filhas, mais duas ou cinco vezes, seu visceral ódio de ser uma excluída e não saber como buscar direitos sociais e jurídicos. O gesto da vizinha avivou a sensação que o casal sempre carregou, desde que cada um se entende por gente, que é a de já ter vindo ao mundo fora da lei..

Na segunda reclamação, ela ameaçou chamar o Conselho Tutelar, que o fez na quarta ou quinta vez em que ouviu Maria desqualificar as filhas, em altíssimos decibéis. Um casal adorável, pais zelosos, provedores, protetores e atentos, o quê já é uma grande demonstração de amor, passaram a maior vergonha de suas vidas. Se viram, pela primeira vez, constrangidos pela lei. Na frente das filhas, na porta de casa e expostos aos olhos julgadores dos vizinhos.

Maria e João vivenciavam a experiência de um governo que fez cumprir uma política de Estado já determinada na Constituição, que é a de garantir, entre outras coisas, moradia digna para a classe trabalhadora. Contudo, existem leis de proteção às crianças, muito bem vindas e necessárias neste país onde a banalização do mal é uma secular instituição. E a ninguém é dado o direito do desconhecimento da lei.

Maria e João foram intimados a comparecerem ao Conselho Tutelar, para audiência. Sentiram aquilo como se já saíssem de casa algemados, direto para a cadeia. Ficaram apavorados. Solapada pela conjuntura, Maria se viu impotente e prostrada. Distante da família, sem intimidade para se aconselhar com os poucos vizinhos acolhedores e solidários, nem disposição para ouvir o que eles dirão e sem saber como exigir providência do Estado, o casal jogou a toalha.

Decidiu vender a casa e voltar pra perto das famílias e de suas culturas. Conversar com quem fala o idioma deles, é o que precisavam. Era um profundo banzo. Objetivamente, a família voltará para um lugar ainda hostil e violento, onde infraestrutura é uma palavra que não faz sentido algum. Maria, João, L e J são vítimas das ainda diversas lacunas dentro de um projeto pioneiro de inclusão habitacional, no qual diferentes faixas de renda e graus de escolaridade coabitam.

Maria e João foram dilacerados por uma realidade estrutural, que os apartou daquele começo de avanço civilizatório. O valor auferido vai render uma boa casa, mas não num lugar privilegiado em determinadas infraestruturas. Será uma casa cercada por muro ou um apartamento, localizado num lugar onde a insegurança e a ausência de equipamentos públicos básicos ainda é o cenário, desde muito antes deles nascerem.

Até quando,Forças Armadas?

Guilherme Silva

A história é plena de militares honrados, legalistas e democratas. João Cândido, Carlos Prestes e Carlos Lamarca são apenas três de muitos que representam o respeito às Forças Armadas e a quem elas servem, a nação. Da mesma forma, há os inservíveis, vermes traidores, como em qualquer profissão.

Infelizmente, esse é o caráter dos militares vendilhões que estiveram à frente, ou se omitiram diante dos golpes civis/militares, de 1964 e 2016. Escória ainda não é um termo substantivamente substantivo para classificá-los. Autoritários, arrogantes, burros, censores, arrivistas, corruptos e mamateiros incuráveis.

Usam as fardas e as medalhas brancaleônicas para dar um ar de seriedade e probidade nos discursos, cada vez mais incoerentes com os fatos. Negam o comportamento descarado e mentiroso, fartamente registrado e divulgado nas redes sociais, em texto e audiovisual. Agem dessa maneira com uma atávica segurança no olhar de quem está armado e tem vasto histórico na prática de torturar e matar, não estrangeiros invasores, mas os brasileiros.

Em 2018, no governo do golpista decorativo, o Rio de Janeiro sofreu intervenção federal, sob o comando do general Braga Netto. Foi um desastre generalizado de arbitrariedades e violência contra as comunidades. Para o deleite da classe dominante, muito sangue de pobre escorreu pelas ruas da cidade maravilhosa. No mesmo ano, a vereadora Marielle Franco foi assassinada pelo amigo e ex-vizinho de Bolsonaro, Ronie Lessa.

Durante o ex-governo, Braga Netto foi assessor especial da Presidência da República, ministro da Defesa, chefe da Casa Civil, chefe do Estado Maior do Exército e candidato a vice-presidente, em 2022. Ele foi, também, comparsa do ex-presidente na negligência com a COVID-19, que matou mais de 700 mil brasileiros. No mesmo ano, ameaçou não haver eleições caso os votos não fossem auditados, interferindo no Poder Judiciário.

O general Augusto Heleno, então chefe do Gabinete de Segurança Institucional da Presidência da República, em 2019, tinha a obrigação de saber de absolutamente tudo que foi embarcado no avião presidencial que levou Bolsonaro à reunião do G20, no Japão. Durante escala na Espanha, um sargento da comitiva foi preso com 39 quilos de cocaína numa maleta. Com quem ficou um 1 quilo?

Fabrício Queiroz e seu subordinado, Adriano da Nóbrega, estão ligados ao ex-presidente até o duodeno. O primeiro era um dos administradores do peculado praticado em família, nos gabinetes parlamentares do pai e dos filhos. Já o segundo era um arquivo ambulante que pode ligar os Bolsonaro ao assassinato de Marielle Franco.

Élcio Franco, Marcelo Blanco e Eduardo Pazuello, militares envolvidos em série de escândalos ocorridos na pandemia. Os gastos desordenados com placebos impostos por negacionistas, jogaram no ralo mais R$ 120 milhões. Eles são comparsas de Bolsonaro na tentativa de compra fraudada de vacinas, na qual foi negociada uma propina de US$ 1,00 para cada uma das 400 milhões de doses adquiridas.

Os casos, infelizmente, não param por aí, mas ninguém quer rever a recepção de Hamilton Mourão, no Palácio do Planalto, a um dos maiores traficantes de cocaína do Brasil. Em comum, além de militares, todos eles, além de outros, apoiaram Bolsonaro na sua investida contra a democracia. Mais ou menos próximos e influentes, serraram fileiras contra o país, como está registrado nas digitais que deixaram para trás, com a petulância de quem tem a consciência de ser intocável.

Que os militares sérios, e os há, venham a público repudiar a traição dos seus colegas de farda e reafirmar o compromisso das FA com a democracia e com a soberania do país. Os que estão em cena, desde 64, enlameiam as instituições e desqualificam profundamente a propalada excelência de formação do alto oficialato das armas brasileiras.

A desfaçatez pueril e dissimulada do coronel do Exército, Jean Lawand, na reunião da CPMI de 8 de janeiro, é de envergonhar os seus professores e alunos. Com a candura de uma criança de quatro anos de idade, Lawand, preparado para enfrentar situações limite de guerra, disse que fez comentários infelizes, sem a intenção de dizer o que disse, que não falava na condição de coronel e foi mal interpretado.

Ele chegou até a pedir desculpas, que gracinha. Seria, se ele tivesse chamado algum coleguinha de bobo e feio, no recreio da pré-escola. O problema é que ele falava para deputados e senadores que sabem exatamente quem ele é. Atentos, os parlamentares não permitiram ser tratados como idiotas e colocaram o coronel em seu devido lugar, denunciando seu infantilismo cínico e desprezível.

As FA têm de descer do pedestal de imaculada paladina da nação, do patriotismo, da moral e dos bons costumes. Isso fará muito bem a elas, pois abandonarão um fardo muito pesado e cada vez mais sujo e esfarrapado. Bem como à sociedade, que passará a, pelo menos, respeitá-las. Com o atual quadro de comando, a guerra está perdida.

Se dá em Chico que se dê em Francisco

Apesar de desastrado, atabalhoado, planejado pelos Trapalhões, o fato é que o 8 de janeiro foi um ato terrorista. Com inocentes, se os há, ou não, os atentados ocorreram e devem ser investigados. Os envolvidos, acusados, processados e julgados. De imediato, os que já vivenciam a experiência da condição de apenado são os executores da destruição, notadamente, uma população difusa.

Entre os presos estão aquela avozinha simpática a quem se dá um não menos simpático bom dia; aquele marido amoroso e companheiro da família; a estudante que mata todas as aulas de história, sociologia, filosofia e geografia; o médico que assedia sexualmente suas pacientes; aquela mãe orgulhosa de se desdobrar em mil para cuidar família, em geral, sozinha e aquele filhão que abusa de colegas entorpecidas.

Enfim, são pessoas sem condições de planejar uma viagem de fim de semana, que dirá um golpe de Estado. Contudo, a ninguém é dado o direito do desconhecimento da lei. Ademais, não precisa ser um juiz para identificar enes crimes praticados naquele dia. Não foi um protesto por melhoria de salários, mas uma deliberada tentativa de romper com a democracia. E isso não é pouco, como disse Jandira Feghali.

As sedes dos Três Poderes foram atacadas e vandalizadas com o propósito de suprimi-los, como fez a ditadura civil-militar, de 1964. Um golpe curioso, aliás. Burocrático, feito durante o expediente, das 9h às 17h. Agora, os terroristas de ocasião, sentindo o peso da ficha caindo, apelam para a condição de teleguiados, pagos para ocuparem as imediações do exército, com plena e criminosa anuência dos generais.

Pessoas sem condições financeiras se verão perdidos nos escaninhos de um kafkiano Judiciário, que está profundamente ofendido. Boa parte não tem ideia do calvário que vai encontrar pela frente, provavelmente para o resto da vida. Então, a dona Eulália, da rua Barão do Engenho, conhecida pelos 10 mil habitantes do município como uma artista da costura, ostentará uma tornozeleira eletrônica e será condenada pela justiça.

A Comissão Parlamentar Mista de Inquérito, instalada para investigar o 8 de janeiro, não pode se apequenar em acusar o seu João Aquino, da venda, apenas. Isso seria mais uma grande desmoralização para a história do Congresso Nacional. A imensa maioria das pessoas envolvidas não tinha condições de se organizar e financiar um processo que não foi gestado da noite para o dia.

A CPMI tem por obrigação apontar os idealizadores, os operadores e os financiadores dessa clara tentativa de suprimir a democracia. Vai ser interessante quando a comissão revelar assessores e parlamentares umbilicalmente ligados ao ato. Assistir a oposição ser desmascarada, ao vivo, a cores e em capítulos, não tem preço.

Pelo comportamento de um deputado da extrema-direita, que se apresentou à comissão de pijama, a ordem é tumultuar os trabalhos e retardar o seu progresso. Há poucos dias, ela clamava pela CPMI, com a acusação de que houve negligência do atual governo, já devida e sobejamente refutada. Agora, eleita pelo voto direto, graças à democracia, será desmascarada durante as reuniões, como a golpista e antidemocrática que é. Dias difíceis para a oposição se avizinham. Viva.

Masoquismo ou lacração?

As audiências públicas no Congresso Nacional, para as quais o ministro da Justiça, Flávio Dino, é convidado, corroboram a afirmação do próprio, segundo a qual a direita é incapaz de produzir uma liderança. A cada convite, isso só se confirma, haja vista a produção de memes com trechos da surra que ele deu em certos senadores da extrema-direita.

Devido ao fato de nenhum deles ter percebido, desde a primeira audiência, na Câmara dos Deputados, a que provocou crises de risos em seus assessores, o ministro se viu obrigado a ser muito claro. Explicou ao ex-juiz ladrão, com todas as letras, que as respostas aos parlamentares serão à altura da seriedade das inquirições.

Quanto mais descabida e desvirtuante da pauta for a provocação feita em busca de lacração nas redes sociais, mais enérgico e contundente será o esclarecimento, para que não pairem dúvidas quanto à seriedade do ministro, bem como a ridícula falta de preparo e de assessoria do parlamentar e para não ser questionado novamente.

Os parlamentares que obrigam Dino a perder tempo de trabalho para responder a uma Quinta Série +

mau-caráter, devem ter aprendido alguma coisa durante a última audiência, na Comissão de Segurança Pública do Senado. Já sem paciência pela insolência de ser confrontado por desqualificados farsantes, o Vingador Dino colocou os meliantes legislativos em fila e os estapeou de modo a tirar-lhes a coragem.

A partir de agora, se os convites não diminuírem, ou esses parlamentares têm sérios problemas cognitivos, ou são masoquistas, ou sabem que suas atuações geram lacração na internet entre os seus eleitores, tão informados quanto uma chaleira. Dino está cansado de dar aulas para os porcos, cujas assessorias são periodicamente humilhadas.

Ao invés de aprenderem alguma coisa, os parlamentares se ofendem quando a bem humorada didática do professor tenta lhes ensinar alguma coisa. Durante os debates revelam, não apenas, limitações cognitivas, mas de conhecimento. A falta de argumentos não é um problema retórico, mas é mesmo por falta deles.

A política de Estado Mínimo defendida pelos parlamentares traidores, que legislam para interesses inconfessáveis, nacionais e internacionais, não se sustenta em minutos de debate. O voto da maioria deles a favor de quem detém os poderes políticos e econômicos é porque dependem desses poderes para existirem.

Seja como for, mais ministros do governo Lula devem ser convidados às comissões. Quanto mais audiências, mais material audiovisual terá o campo progressista para confrontar seus adversários nas eleições. A existência de uma direita miserável, colonialista e escravocrata vai ficar ainda mais evidente. Quebrem tudo, ministros.

Grande Dia

Dia sim, outro, também, o Brasil se vê frente a frente com aspectos cada vez mais abjetos, horrendos e mal cheirosos da nudez bolsonarista. O 3 de maio será histórico para para quem anseia por justiça às vítimas do governo genocida. A apreensão dos celulares de Michelle, de Bolsonaro, de dois ex-assessores próximos e da esposa de um deles é o início de mais um capítulo do ocaso do bando.

Espera o pior das iniquidades que serão descobertas. Como, por exemplo, saber que as famílias Bolsonaro e Cid adulteraram os cartões vacinais de suas filhas e que um dos presos pela Polícia Federal conhece quem mandou matar a vereadora Marielle Franco e o seu assessor, Anderson Gomes. Não se sabe, enfim, quem é o pior das famílias.

O que se revelará das investigações fará arder de vergonha a alma do mais empedernido bolsonarista. Surgirá uma família no centro, não necessariamente no comando, de um império de crimes, que vão de peculato a homicídio, passando por lesa-pátria e humanidade, dilapidação do patrimônio público, conspiração, traição ao país, entre outros, menos ofensivos, como injúria e difamação.

Sem o poder de compra do cartão corporativo, o processo vai custar muito caro ao patrimônio amealhado, em décadas de corrupção. A única possibilidade dessa família adiar investigação, acusação, julgamento e prisão será meter a mão no bolso para concorrer nas redes sociais e garantir alianças parlamentares. O apoio será cada vez mais caro e corroerá, profundamente, o patrimônio da quadrilha em forma de família.

Onde vão se esconder as criaturas que ainda apoiam os Bolsonaro? Quando alçado a candidato a candidato à Presidência, ele foi apresentado por certa imprensa como um político polêmico, sem se aprofundar nem contextualizar ofereceu informações picadas, descontextualizadas de um caricato político. Até ali, vendiam a rivalidade entre o apoio e a oposição a ele, como posicionamento político partidário.

Contudo, depois de tudo já revelado sobre essa família, no decorrer dos últimos quatro anos, o alinhamento a ela, há muito saiu da disputa política para a civilizatória. O bolsonarismo é uma questão de caráter. No caso, um muito mau. É um sinônimo pra fascismo. Hipócrita defende família, pátria e deus, ao mesmo tempo em que corrompe e subverte essas instituições, em nome delas.

A paulatina morte de Bolsonaro, diariamente registrada, vai mostrar o quanto o apoio popular a ele é pífio. Isso é desesperador para a imprensa da extrema-direita, pois sabe que não consegue, como disse o ministro da Justiça, Flávio Dino, produzir um líder capaz de defender as pautas da referida ideologia, de maneira leal e lógica. Enfim, pode-se esperar mais um(a) líder espetaculoso(a) de auditório, igualmente fascista.

A esquerda já deveria estar com a faca, o queijo e a goiabada da comunicação nas mãos, para se candidatar à hegemonia política brasileira e sul-americana, deste quadrante histórico. A extrema-direita tem dois problemas urgentes e de muito difícil solução, em meio a uma sociedade escaldada de operações cinematográficas e heróis de ambientes controlados. Ela tem as tarefas de se livrar desse lixo radioativo e produzir um(a) líder competitivo(a), até 2016. Ciro Gomes se prestaria ao papel.

A esquerda tem as condições políticas, intelectuais e tecnológicas, mas tem, também, a obrigação de impedir o retorno da extrema-direita ao poder. O bolsonarismo só não instalou uma ditadura porque perdeu as eleições, por pouco mais de dois milhões de votos. Reeleito, daria um golpe sob os auspícios dos EUA. Brasil e América Latina seriam condenados a mais décadas de retrocessos, em todos os aspectos. O momento é favorável, embora delicado. Mas não há como recuar, depois desse grande dia.

Se não enfrentar a violência pega

Guilherme Silva*

Milhares de estudantes deixaram de ir às escolas e faculdades, no dia 20 de abril. Não foi feriado por data histórica nem dia santo. O motivo foi o medo, ora veja-se, de irem e não voltarem de lá. São tantos que não há como hierarquizar os graus e tipos de prejuízos. Toda a comunidade escolar e o país perdem muito, material e simbolicamente.

Entende-se comunidade escolar os corpos discentes e os técnicos docentes e administrativos, as famílias, os serviços públicos e a sociedade privada. A escola é responsabilidade de todos. Haja vista a primeira edificação de uma ocupação do MST ser uma escola. O desenvolvimento de uma educação emancipadora, desejada e acessível à toda a sociedade é basilar dos interesses desses três universos políticos e é incompreensível que se aceite o seu abandono.

A condição de sociedade pacificada e justa é muito comum em países desenvolvidos, admirados pelos brasileiros, justamente pela excelência na educação. O Brasil nunca foi a referência mais positiva da questão, e suas escolas não podem ser consideradas campos de paz. Contudo, não havia esse tipo de ataque orquestrado e cinematográfico.

A violência de agora tem origem, mais precisamente, 2018. Ano em que o Brasil elegeu o ódio para a Presidência da República. Sentimento este construído, desde a Lava Jato, quando se criminalizou a política. O candidato que conclamou a população, em discurso de campanha, a metralhar o adversário político, foi eleito.

Não obstante o caráter cretino e maléfico da criatura, soma-se a dependência cultural dos brasileiros. Bolsonaro e bolsonaristas se orgulham de idolatrarem os EUA, país campeão mundial de massacres em escolas. O presidente importou a política armamentista do Tio Sam, na mais completa desregulamentação e não apenas banalizou, mas apoiou a violência contra as minorias.

Agora, os telhados das casas estão cobertos dos frutos das sementes semeadas e a sociedade se pergunta de onde saiu isso. A imprensa venal, cinicamente, trata do assunto como se nada tivesse a ver com isso. Ela já provou não ser o meio mais bem qualificado e confiável para propor esse debate. As forças progressistas deste país devem agarrar esse assunto, com unhas e dentes, e evitar que mais tragédias se repitam.

A comunidade escolar não pode deixar assunto capital nas mãos de quem ganha com a venda de sangue derramado. Tampouco o assunto pode ser dominado pela narrativa conservadora e autoritária de um Estado policialesco. O debate deve ser intenso, perene, bem qualificado, até extinguir das escolas, por completo, o pensamento bolsonarista.

Em vista da maturidade política média do brasileiro, cabe ao governo Lula avançar com campanhas de conscientização. Não apenas dessa violência, mas da indissociabilidade da comunidade e da participação política como condição para extirpar a extrema-direita do Brasil e colocar este país nos trilhos, rumo a uma nação avançada, justa e civilizada.

*Guilherme Silva escrevinha

19 de abril para não esquecer Bolsonaro

Guilherme Silva*

Quinhentos e 23 anos depois, o dia 19 de abril nos obriga a lembrar de seres humanos que ainda não têm essa condição reconhecida. Em que pesem os avanços políticos de proteção dos interesses dos povos remanescentes, em 1500, desde Rondon ao governo Dilma Rousseff, o acesso à cidadania para eles sempre foi mais difícil.

O pouco construído, debaixo de muito sangue indígena, não foi apenas destruído pelo último governo. Ele adotou ostensivas e deliberadas políticas de extermínio de seres humanos, como se fazia com naturalidade, século 16. Não há outra expressão para elas senão genocidas. Bolsonaro garantiu que não demarcaria um cm² de território e deixou crianças yanomami morrerem da fome imposta pelo garimpo que ele autorizou.

O dia de hoje, nos obriga a contemplar o retrocesso causado pela ideologia da extrema-direita, também conhecida por bolsonarismo. Agropecuaristas, madeireiros e garimpeiros tiveram passe livre para avançarem selvagem e desordenadamente suas produções de altíssimos impactos socioeconômicos e ambientais, incentivados a matarem indígenas.

Crianças e mulheres estupradas e mortas, bem como várias lideranças que ousaram defender a casa e a família, além de povos e o meio ambiente poluídos e contaminados. O indígena faz parte da biota. Sem a floresta, ele morre, também. O mundo está no século 21, mas Bolsonaro retrocedeu o Brasil ao século 16, em um projeto genocida.

A data de hoje, exige uma incômoda, mas necessária reflexão acerca do atávico e cruel olhar dos bandeirantes sobre os povos originários, enraizado na sociedade. A classe dominante conseguiu produzir, em mestiços, a consciência de superioridade a partir da vista dos olhos azuis do invasor. Não importa a classe social ou grau de escolaridade, aos olhos destes, os autóctones são selvagens e inferiores.

Culturas e saberes tecnológicos de centenas de povos são tratados como pitorescos, coisas exóticas, atração de circo. Para o desespero dos progressistas e humanistas e, para a alegria da extrema-direita, em quatro anos, Bolsonaro quase destrói por completo cerca de 60 anos de alguns avanços políticos e civilizatórios.

Contudo, não teria ele tempo, muito menos competência para executar sua obra, não fosse a péssima consciência geral da população sobre essa minoria, com o apoio irrestrito de uma imprensa venal, que defende os interesses de seus donos no roubo dos recursos energéticos do país. Assassinatos, entre outros crimes, ocorreram na frente das câmeras, normalizados pelo mídia e sob o silêncio cúmplice da sociedade.

Muito além de combater e desfazer a nefasta política indígena do governo anterior, é imprescindível superar essa consciência abjeta. Isso é mudança cultural e não se faz do dia para noite. O governo Lula é progressista e deu um importante passo simbólico. O presidente subiu a rampa de braço dado com o mundialmente conhecido cacique Raoni Metuktire, de 90 anos.

Porém, o Congresso Nacional é tomado dos interesses dos três setores produtivos. Lula não tem o apoio necessário para estabelecer as justas políticas indigenistas, que devem ser de Estado, definitivamente. Não podem estar sujeitas à provisoriedade de governos. O apoio da sociedade depende do grau de compreensão que ela tem da importância dos povos originários.

À medida do amadurecimento dela, os povos que resistirem verão uma sociedade menos ignorante, mais respeitosa e aberta a se conectar a outras culturas. Até que isso aconteça, diante de um quadro cultural raso e frágil, nada está garantido, pois a classe dominante não descansa enquanto não voltar ao poder e destruir tudo, novamente. Portanto, 19 de abril, de 2023, se coloca como um hipopótamo atrás da orelha da sociedade, que aponta para o perigo de algum vacilo e o retorno da desumanidade, do genocídio das minorias. O dia do indígena impõe a indispensável atenção para não esquecer e impedir a vota do bolsonarismo. Viva os povos originários do Brasil.

*Guilherme Silva esrevinha